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Educar o consumidor

A consciência não só do que escolhe comer na hora das refeições como também o cuidado para evitar e combater o desperdício do alimento faz parte do compromisso que todo brasileiro deveria assumir em 2020. Acadêmicos, especialistas, GOVERNO, autoridades e a população têm de lutar e buscar mudanças que serão benéficas não só para as pessoas como para o meio ambiente e a ECONOMIA. É uma cadeia.

Infelizmente, o Brasil descarta por ano quase 37 milhões de toneladas de lixo orgânico, basicamente restos de alimento, ainda que milhares não tenham o que comer ou não possam escolher. Por ano, cada brasileiro manda para o lixo mais de 41 quilos de comida. Em uma família com três moradores, esse volume chega perto dos 130 quilos. É o que aponta levantamento com quase 700 famílias feito pela Fundação Getulio Vargas em parceria com a Embrapa. Hábito terrível repetido em todas as classes sociais. Com tantas pessoas no mundo, e no país, passando fome, como lidar com o desperdício de ALIMENTOS?

O professor Marcos David Ferreira, da Embrapa Instrumentação, explica que é importante deixar clara a definição do que é perda e desperdício. "Em definições internacionais, padronizadas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), perda é aquele produto que sai do campo e não chega ao consumidor, perde ou estraga pelo caminho. Já desperdício é o alimento pronto para consumo que é jogado fora. Infelizmente, no Brasil os valores são altos em ambas as situações."

Marcos David Ferreira enfatiza que, no caso das perdas, de cada 10 caixas produzidas, dependendo do produto, quatro a cinco são jogadas no lixo. Aliados aos dados de desperdício, os valores são enormes. "O mundo passou de um pós-guerra com escassez de ALIMENTOS para uma oferta abundante de comida, e mesmo em países que sofreram diretamente com guerra as gerações posteriores não têm, muitas vezes, essa consciência. No Brasil, o agravante é que por sermos um país tropical/subtropical, praticamente tivemos que reinventar a agricultura, criando uma situação muito diferente, na qual somos autossuficientes nos principais itens da alimentação e grandes exportadores no agronegócio. Mas desperdiçamos muito, jogamos grandes quantidades de comida fora. E a pergunta principal é como alterar essa situação.."

Para Marcos David Ferreira, um dos pontos principais é a conscientização - tanto na questão socioambiental, como no impacto no orçamento familiar. Menos desperdício significa lixões menores e mais dinheiro para as famílias. "Existem outras faces, como a ausência de políticas públicas claras para combater o desperdício, em especial no setor de alimentação, como restaurantes, hotéis etc., em que a legislação restringe a distribuição de ALIMENTOS."

No entanto, há aspectos positivos. Marcos David Ferreira destaca que ações louváveis são da Mesa Brasil Sesc, com uma rede nacional de bancos de ALIMENTOS e também de ONGs como banco de ALIMENTOS e de associações como a Associação Brasileira de Supermercado (ABRAS). "Assim, com ações conjuntas não somente no final da cadeia - em nível de consumidor, mas com o setor produtivo, aliadas a políticas públicas -, podemos alterar essa situação."

ENVELHECIMENTO Também relevante, há outra questão que diz respeito ao envelhecimento da população brasileira. Além de saber escolher e não desperdiçar, é preciso saber o que comer. O professor Franco Maria Lajolo, do Departamento de ALIMENTOS e Nutrição Experimental da USP e vencedor do prêmio Péter Murányi de 2016, alerta que a população está envelhecendo, mas sem cuidar do que está ingerindo. As pessoas comem muito e mal. Estamos lidando com variados problemas de obesidade e deficiências nutricionais. "Para enfrentar essa situação, um caminho que se vem desenhando é a nutrição personalizada. Já existe um bom número de pesquisas mostrando a relação entre genes e a necessidade de nutrientes. Essa tendência estará consolidada em cinco ou 10 anos."

Franco Maria Lajolo enfatiza que há uma aliada, que é a inteligência artificial: "O uso de tais tecnologias já permite, por exemplo, a composição da tabela de nutrientes. E, futuramente, serão aplicadas nos smartphones e outros dispositivos. A inteligência artificial empodera o indivíduo a construir sua própria dieta, de acordo com seus hábitos e sua genética".

Porém, Franco Maria Lajolo avisa que há um desafio a curto prazo: o combate às fake news e seus efeitos sobre a nutrição. "Reduzir a ingestão de gorduras saturadas, de açúcar e de sal são as maiores tendências na indústria dos ALIMENTOS. As notícias falsas passam informações que não estão associadas à ciência. É preciso ensinar o consumidor a buscar conhecimento."

Dicas para evitar o desperdício


Nunca vá às comprar sem saber o que já tem em casa na geladeira, na despensa

Cuidado com os ALIMENTOS perecíveis. Compre somente a quantidade pedida na receita ou se programe para ir mais vezes ao Supermercado, feira ou sacolão

Saiba o que vai cozinhar na semana para só comprar o necessário

Sempre dê preferência ao que é da época: verduras, legumes e frutas

Tenha o hábito de levar às compras uma lista para não comprar mais do que deve e precisa

Aprenda a condicionar de maneira adequada os ALIMENTOS para que, mesmo na geladeira, não estraguem antes do tempo

Busque conhecimento e saiba como aproveitar integralmente os ALIMENTOS: folhas, talos e cascas. Sabia que as sementes de abóbora podem ser torradas no forno e servidas como petisco?

Abandone o preconceito contra a comida requentada. O que sobrou e foi para a geladeira, dentro do prazo, mantém o sabor e pode ser consumido. Ou, se preferir, também pode ser transformado em outras receitas. O arroz, retemperado, pode virar um delicioso bolinho.

Enquanto isso... Agrotóxicos liberados

Ao mesmo tempo em que existe a preocupação com o que comer, o que é saudável, a qualidade do alimento, há o medo por parte da população com o uso exagerado dos agrotóxicos no Brasil. Medo dos hormÒnios nos animais e dos venenos nos vegetais. Muitas perguntas, inúmeras dúvidas e respostas pouco convincentes. A realidade é que o Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial da União, em 27 de novembro de 2019, autorização do registro de mais 57 agrotóxicos no Brasil (55 são produtos genéricos, ou seja, com base em ingredientes ativos que já estavam presentes em outros produtos existentes no mercado).

Ao todo, somente em 2019, foram liberados 439 desses produtos pelo GOVERNO. De acordo com a pasta, o objetivo é aumentar a concorrência no mercado e diminuir o preço dos defensivos, o que faz cair o custo de produção. Por outro lado, parte da sociedade se preocupa em demasia porque os agrotóxicos impactam a saúde pública, podendo causar intoxicações e doenças como o câncer.

Dados de 2019, apresentados no livro A geography of agrotoxins use in Brazil and its relations to the European Union, da editora FFLCH/USP, revelam que diversos agrotóxicos não aprovados, por exemplo, em países da União Europeia são autorizados pelo GOVERNO brasileiro. Estima-se que 4.500 pessoas sejam intoxicadas por ano por esses produtos no Brasil.

No país, maior consumidor de agrotóxicos do mundo, segundo dossiê de 2008 da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASco), esses produtos estão relacionados a uma morte a cada dois dias por doenças agudas, sendo um terço suicídio e os outros dois terços por inalação por pessoas que os manipulam, segundo dados disponibilizados no livro da editora FFLCH/USP. Mas isso ainda é subnotificado.

Além disso, o livro detalha que os agrotóxicos têm ligação com mortes por efeitos diretos, por exemplo, devido ao consumo de ALIMENTOS contaminados. E efeitos indiretos, como na contaminação do lençol freático, o que tem relação com a incidência de tumores, mas que ainda não é quantificado, devido ao câncer ter múltiplas causas.


Fonte: Estado de Minas             

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