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Empresa relaciona três pilares para o volume recorde e o giro no chão de loja
Estamos ganhando muito mercado, disse Lucas Lira, CFO da Ambev, sobre os números apresentados pela companhia. O resultado do terceiro trimestre foi bem recebido por analistas e investidores, com reflexo na bolsa: as ações da companhia dispararam 9,72%, a maior alta do dia do Ibovespa.
O volume de cerveja vendido cresceu 7,5% no período na comparação anual, para 45,655 milhões de hectolitros, enquanto as expectativas apontavam para queda. No acumulado de 12 meses, o volume bateu 180 milhões de hectolitros, a maior marca da história para o período, superando o pico de 172 milhões de hectolitros de 2015.
Em entrevista à EXAME Invest, Lucas Lira explicou os três principais pontos que levaram ao volume recorde.
“Primeiro, o portfólio. Seja no premium, no core plus ou no mainstream, temos visto nosso portfólio cada vez melhor e completo, seja em variedade e inovação para diferentes ocasiões de consumo”, afirmou.
O segundo ponto apontado pelo executivo é a inovação. Embora dona de marcas tradicionalíssimas, como Antarctica, Skol e Brahma, mais 20% das receitas vieram de produtos criados há, no máximo, três anos. “Não é uma marca só ou só um produto, é um pipeline de inovação.”
O terceiro ponto que explica o recorde em vendas são os investimentos em tecnologia, que resultaram nas plataformas Zé Delivery (entregas B2C), BEES (B2B) e Donus (fintech para parceiros B2B). “Realmente vimos uma oportunidade no meio da crise, da pandemia.”
Lira também comentou os desafios da Ambev para os próximos meses e 2022, que vão desde a busca por mais variedade de produtos em suas plataformas digitais até possíveis gargalos relacionados à oferta. Mas, ainda que veja pressões em sua cadeia de suprimentos e na de fornecedores, o executivo acredita que o pior já passou.
Confira a entrevista com Lucas Lira, CFO da Ambev:
A Ambev apresentou forte crescimento de volume, contrariando as expectativas de mercado. Qual o tamanho do ganho de mercado proporcionado?
Do segundo trimestre de 2020 para cá a curva de volume é ascendente, com mudança de patamar para cima do histórico, superando 2015. Trouxemos o volume anualizado para outro nível, tanto no Brasil quanto em outros mercados.
Nosso volume vem performando melhor que em 2020 e em 2019. No terceiro trimestre, tivemos crescimento de volume ante 2020 em nove dos dez principais mercados, e versus 2019, crescemos em oito deles. Isso também ocorreu no primeiro e segundo trimestres, o que mostra consistência.
Desde 2019, temos feito mudanças grandes e estruturais na companhia, com apostas muito grandes em inovação, em tecnologia, na construção e na renovação do portfólio. Este [terceiro] trimestre ilustra bem todo o trabalho que vem sendo feito há mais de dois anos.
O share é uma métrica que mostra que nós estamos acertando mais do que errando e executando superbem. Apesar dos pesares, com pandemia e [o cenário] macro, isso tem dado certo.
Quais foram as principais transformações que elevaram o volume de vendas a esse nível?
Primeiro, o portfólio. Seja no premium, no core plus ou no mainstream, temos visto nosso portfólio cada vez melhor e completo, seja em variedade e inovação para diferentes ocasiões de consumo. É um portfólio mais saudável e melhor.
Número dois é inovação. Não é uma marca só ou só um produto, é um pipeline de inovação, que vem sendo construído desde 2019. No terceiro trimestre, mais uma vez, as inovações representaram mais de 20% de nossa receita, que é um patamar alto e muito bom, que temos conseguido manter. A inovação tem feito a diferença, de novo.
Terceiro é a tecnologia. Ou seja, essas apostas que fizemos, principalmente a partir da pandemia. No segundo trimestre do ano passado, resolvemos acelerar o Zé [Delivery] no B2C, com BEES no B2B e com a Donus, que é nossa fintech.
Realmente vimos uma oportunidade no meio da crise, da pandemia. Vimos a tecnologia transformar não só o nosso negócio mas também a forma como nos relacionamos e procuramos agregar valor para o consumidor e cliente. Resolvemos apostar grande e tem dado certo, com as plataformas ganhando o Brasil.
Quando a Ambev cita que mais de 20% da receita vem de inovação, de onde vem essa receita?
Definimos inovação como qualquer produto [como líquido, embalagem, marca] que não existia no mercado nos últimos 36 meses. É um alvo móvel, que vai evoluindo mês a mês. A ideia é que isso seja mesmo dinâmico para que a gente desenvolva um pipeline de inovação.
Quais os próximos passos para as plataformas de tecnologia da Ambev?
Ainda estão se desenvolvendo no que podem oferecer. Um bom exemplo foi o anúncio de que a BRF [BRFS3] vai trazer os produtos dela para o BEES e com isso vamos conseguir trazer mais variedade para os negócios dos nossos clientes. Para nós isso é superimportante: ter mais variedade e oferta dentro do BEES. Estamos vendo muito potencial para essas plataformas, que vieram para ficar, mas há muito trabalho para fazer ainda.
O número de pedidos do Zé Delivery cresceu de 14 milhões para 15 milhões desde o primeiro trimestre. Essa desaceleração do crescimento se deve ao maior consumo de cerveja nos bares?
Os bares e restaurantes estão voltando e, com isso, a socialização fora de casa, como tomar cerveja com os amigos. Isso é bom, porque foi um dos segmentos que mais sofreram na pandemia e vemos com muito bons olhos e temos nos preparado para essa ocasião de retorno.
No caso do Zé, ele passou por uma extensão muito grande do ano passado para cá. Focamos nos últimos meses em sua expansão geográfica. Hoje, o Zé está em 280 cidades, o que é um crescimento versus o segundo trimestre de cerca de 70 cidades a mais. As cidades em que estamos cobrem aproximadamente 70% da população brasileira. Existe o plano de expansão geográfica, que continua.
Além disso, temos focado em aprimorar a oferta de produtos dentro do Zé. Da mesma forma como fizemos a parceria com a BRF no BEES, estamos trabalhando com outras empresas de bens de consumo para que eles também ofereçam produtos por meio do Zé para as ocasiões de consumo dentro de casa.
Estamos com mais de 70 parcerias celebradas para o Zé, e ele segue crescendo e a quantidade de pedidos cresceu ao longo do trimestre, o que é positivo ao olhar para frente. Mas há muita coisa para fazer, seja na expansão geográfica seja em aprimoramento na gama de produtos do aplicativo.
Temos visto a inflação superar as estimativas tanto no Brasil quanto no exterior. Na conferência com investidores foi dito que deve haver maior pressão das commodities do que cambial em 2022. Como isso deve afetar as margens de lucro para o ano que vem?
Ao passo que em 2021 as pressões vieram mais do câmbio que das commodities, seja por causa da desvalorização do real ou do peso argentino, essa realidade se inverte em 2022. Então, as commodities tendem a jogar mais contra no ano que vem, e o câmbio, principalmente o real, deve pesar menos. O principal ponto de atenção são mesmo as commodities.
É um desafio. O ano de 2020 já foi bastante desafiador, mas, felizmente, temos conseguido recuperar nosso negócio de modo consistente pelo crescimento de receita e muito em razão do crescimento de volume.
Para encarar 2022, a fórmula será, mais uma vez, o foco muito grande na melhoria de volume e receita graças à inovação, às marcas premium e ao volume de garrafa retornável. Não tem uma solução única. Mas acreditamos que, se continuarmos melhorando de modo consistente a nossa performance comercial, temos boa chance de zerar, pelo menos em parte, as pressões que vão vir.
Fonte:Exame Invest