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Depois de anos de crescimento, o formato de atacarejo exibe sinais de desaceleração. Essa pode ser uma oportunidade para supermercadistas regionais se destacarem
Por Renato Müller
O varejo alimentar brasileiro está em um ponto de virada. O crescimento do atacarejo tem desacelerado, as redes regionais mostram resiliência e a fidelidade do consumidor recuou aos patamares pré-pandemia. Para o futuro, o caminho para o sucesso depende da capacidade que as empresas tiverem de oferecer preços baixos, facilidade para o cliente encontrar o que precisa, conveniência e praticidade.
Essas foram as principais conclusões trazidas por Roberto Butragueño, diretor de varejo da NielsenIQ Brasil, durante a ABRAS´23, nesta semana em Campinas (SP). “Estamos terminando um ciclo em que o consumidor precisou fazer grandes mudanças em seus padrões de consumo, diante do cenário macroeconômico”, afirma o executivo. Em um ambiente de mercado de inflação alta e juros elevados, nos últimos três anos os consumidores tiveram um aumento de quase 50% no preço de sua cesta de alimentos – e isso levou o consumidor a buscar alternativas. “Os consumidores aproveitaram mais promoções, substituíram produtos, trocaram marcas e buscaram formatos de loja mais focados em valor, tudo para aumentar seu poder de compra”, analisa Butragueño.
Com a redução da inflação (que, no acumulado de 12 meses, caiu de 12,13% em abril de 2022 para 3,16% em junho de 2023) e o início do ciclo de queda dos juros, o cenário tende a mudar, mas dentro de um ambiente ainda mais competitivo. “O consumidor tem cada vez mais alternativas de consumo, e canais como e-commerce, pet shop e o atacarejo ganharam penetração de mercado, tomando espaço de formatos como hipermercados, sacolões e pequenos supermercados”, explica o especialista.
O interessante é que o consumidor não tem optado por um ou outro canal – e sim adicionado canais de compra ao seu mix. “Ninguém usa somente o atacarejo ou o hipermercado, e metade dos clientes usa pelo menos três diferentes formatos. Não existe mais consumidor exclusivo”, decreta. Assim, o conceito tradicional de fidelidade, ligado à exclusividade de compra, não faz tanto sentido. “O varejo precisa ser competitivo contra vários formatos e alcançar os clientes em diversas ocasiões de compra”, afirma.
Um novo ponto de inflexão
Nos últimos anos, a grande história do varejo alimentar foi o crescimento dos atacarejos, um formato que inaugurou quase 200 lojas no ano passado – mas mostra sinais de estagnação. “O atacarejo chegou a representar 48,4% das vendas do varejo alimentar e ganhou 6 pontos de participação nos últimos dois anos, espremendo os hipermercados, enquanto os grandes supermercados regionais se mostraram resilientes. Mas neste ano, o atacarejo tem sido o canal de menor crescimento em mesmas lojas: apenas 0,5%”, analisa Butragueño. Os grandes supermercados, por sua vez, avançaram 6,7%. “O atacarejo não tem apresentado crescimento incremental, e sim canibalização das lojas”, afirma.
O fato é que, hoje, não existe uma diferenciação clara entre diversos formatos de varejo alimentar: 17 das 20 maiores redes do Ranking Abras 2023 contam com operações de atacarejo e autosserviço (e somente três não contam com atacarejo). “O varejo de alimentos hoje é híbrido, trazendo uma nova proposta de valor para os consumidores, que têm ampliado a frequência de compras e reduzido o número de itens por compra. O atacarejo tem se aproximado dos hipermercados, tanto em mix de produtos quanto em missões de compra”, explica.
Por outro lado, o atacarejo tem procurado ganhar força em categorias destino, como açougue e FLV, que impactam o custo operacional. “Esse é o grande desafio para o setor continuar a crescer com rentabilidade”, afirma Butragueño.
Para atender consumidores que têm uma diversidade de formatos à disposição, as redes supermercadistas precisam se diferenciar da concorrência em atributos que são valorizados pelos clientes. Segundo o estudo NIQ Shopper Trends 2023, apresentado durante a ABRAS´23, os itens mais importantes na definição de onde o cliente compra são a oferta de preços baixos, boa relação custo/benefício, acesso conveniente, promoções atrativas e uma experiência de compra agradável.
“Permitir que o cliente encontre rapidamente o que deseja, ter tudo em uma única loja e apresentar preços baixos para a maioria dos itens são aspectos fundamentais, que funcionam como diferenciais competitivos”, explica Butragueño. “Os consumidores demonstram saber o preço dos produtos e identificar mudanças em seus gastos. Por isso, é preciso ser muito seletivo ao repassar custos e trabalhar a eficiência operacional sem impactar negativamente a experiência do cliente”, diz.
Essa pode ser uma grande oportunidade para o varejo regional. “Quem for excelente na apresentação dos diferenciais da loja e conseguir se comunicar bem com os clientes tem um potencial maior de crescimento com rentabilidade. Temos hoje no Brasil uns 20 varejistas com patamares semelhantes de penetração em mercados regionais, mas níveis muito diferentes de fidelidade dos clientes. O desafio é entender onde você está, como a concorrência se posiciona e o que faz sentido para os consumidores”, explica Butragueño.
Redação SuperHiper